Homicídio de Ihor Humenyuk

Homicídio de Ihor Humenyuk
Local do crime Aeroporto de Lisboa
Data 12 de março de 2020
Tipo de crime crime de ofensa à integridade física grave qualificada, agravada pelo resultado
Vítimas Ihor Humenyuk
Réu(s) Bruno Sousa, Duarte Laja e Luís Silva
Local do julgamento Tribunal Central Criminal de Lisboa

O Homicídio de Ihor Humenyuk refere-se à morte do cidadão ucraniano Ihor Humenyuk (em ucraniano: Ігор Гуменюк; Novoyavorivsk, 1979) agredido e morto no Aeroporto Humberto Delgado por três inspetores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, a força policial que controlava, até 2023, as fronteiras em Portugal.[1] O caso encontra-se em fase de recurso para o STJ. Certidões judiciais foram extraídas no sentido de se apurar a existência de mais intervenientes, após a decisão de recurso.

Biografia

Nasceu em Novoyavorivsk, na Ucrânia, numa família cristã de meios modestos, filho de uma caixa de loja e de um motorista. Seguiu o ensino técnico de condução rodoviária e casou-se com Oksana, três anos mais nova, com quem viria a ter os seus filhos.[2]

Assassinato

O cidadão ucraniano terá chegado a Portugal no dia 10 de março, via Turquia, para trabalhar ilegalmente no país. Os contornos do incidente são ainda parcialmente desconhecidos, mas sabe-se que Ihor morreu no Espaço Equiparado a Centro de Instalação Temporária (EECIT) do Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, após um interrogatório em que foi vítima de tortura. Homeniuk foi vítima de atos de «violência desmedida» e acabou por perder a vida por asfixia mecânica.[3]

As agressões ocorrem pouco depois das 8h, mas o óbito só foi registado às 18h40 e a situação só se tornou pública 17 dias mais tarde quando os presumíveis responsáveis foram detidos pela Polícia Judiciária (PJ). O SEF alegava inicialmente que o Ihor teria falecido devido a um ataque cardíaco, em sequência de uma «crise de epilepsia». O médico legista alertou a Polícia Judiciária de que não podia ter sido essa a causa de morte.[4]

Cristina Gatões, diretora nacional do SEF, disse em entrevista à RTP que a morte do cidadão ucraniano foi resultado de uma «situação de tortura evidente». A 9 de dezembro, quase nove meses após o homicídio, Cristina Gatões demitiu-se das suas funções.[5]

O Ministério da Administração Interna determinou a abertura de processos disciplinares ao diretor e subdiretor de Fronteiras de Lisboa (que foram demitidos das suas funções), ao Coordenador do EECIT, e a todos os envolvidos nos acontecimentos que levaram ao falecimento de Ihor.

Os três inspetores do SEF foram detidos pela PJ e ficaram em prisão domiciliária, tendo optado por não prestar declarações no primeiro no interrogatório judicial.[6]

O estado português irá pagar uma indemnização à família de Homeniuk, cujo valor será determinado pela provedora de Justiça. Ihor era casado e pai de dois filhos menores. Apesar de já ter decorrido meio ano, as consequências políticas e diplomáticas ainda são difíceis de prever. Foi mencionado pelo Presidente da República que está a ser analisada a possibilidade de uma completa reestruturação do SEF, deixando este de existir e passando as suas responsabilidade a ser cumpridas pela PSP, GNR, PJ, IRN e APMA.[7] O que aconteceu no centro de instalação temporária (CIT) foi um crime, que só é do conhecimento público devido ao profissionalismo e ética de um médico legista que não embarcou na tese da morte natural[8][9].O médico-legista Carlos Durão disse que a causa da morte de Ihor Homenyuk veio referenciada como “natural”, mas que logo durante o exame verificou que as lesões traumáticas apontavam para a existência de um crime.[10] A reforma foi no entanto adiada para Maio de 2022, devido à importância do SEF no controlo de fronteira, mais especificamente na ajuda à gestão da pandemia COVID-19.

Referências

  1. Fernanda Câncio e Valentina Marcelino (15 de dezembro de 2020). «As perguntas que queimam no caso Ihor». Diário de Notícias  !CS1 manut: Usa parâmetro autores (link)
  2. Luís Pedro Cabral (4 de outubro de 2020). «Crime no aeroporto de Lisboa. O voo sem retorno de Ihor Humenyuk». Expresso 
  3. José Miguel Gaspar (9 de dezembro de 2020). «SEF: Cronologia de um caso de tortura e morte». Jornal de Notícias 
  4. «Da morte de Ihor Homenyuk à crise institucional. O que mudou em nove meses?». Público. 15 de dezembro de 2020 
  5. Rodrigo Lobo (9 de dezembro de 2020). «Cristina Gatões deixa a direção do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras». Rádio e Televisão de Portugal 
  6. «Caso SEF: os principais acontecimentos desde a morte de Ihor Homenyuk em março». TVI 24. 15 de dezembro de 2020 
  7. Gonçalo Teles (10 de dezembro de 2020). «Estado assume pagamento de indemnização pela morte de cidadão ucraniano no SEF». TSF Rádio Notícias 
  8. Henriques, Joana Gorjão. «IGAI implica 12 inspectores do SEF, seguranças e enfermeiro na morte de Ihor Homenyuk». PÚBLICO. Consultado em 11 de junho de 2021 
  9. Vinha, Nuno. «IGAI implica 12 inspetores do SEF, seguranças e até o enfermeiro na morte de Ihor Homenyuk». Observador. Consultado em 11 de junho de 2021 
  10. Henriques, Joana Gorjão. «Médico que autopsiou Ihor: "Não tive dúvidas de que algo se passava, por isso alertei a PJ"». PÚBLICO. Consultado em 11 de junho de 2021